‘Aprendo línguas nas ruas’, revela Juan Cárdenas, tradutor de Machado de Assis para o espanhol
O romancista colombiano, autor de “O diabo das províncias”, fala sobre a importância da tradução em sua obra e sua admiração pelo escritor brasileiro
Um sonho realizado: lançamento no Brasil
Juan Cárdenas, renomado romancista colombiano de 46 anos, celebra o lançamento de seu livro “O diabo das províncias” no Brasil. O autor, conhecido por suas traduções de obras de Machado de Assis e Guimarães Rosa do português para o espanhol, considera a publicação em terras brasileiras como a realização de um sonho.
A inspiração: trauma e a busca pelo significado
Cárdenas revela que a inspiração para “O diabo das províncias” surgiu de sua própria experiência ao retornar à Colômbia após 15 anos no exterior. O livro, que acompanha a jornada de um biólogo que volta à sua cidade natal e se depara com o passado traumático da região, é uma profunda reflexão sobre a América Latina e seus desafios.
O autor destaca a importância de abordar o trauma histórico da Colômbia, incluindo a escravidão, o genocídio indígena e as lutas pela terra, sem romantizá-los. “O diabo das províncias” busca desconstruir narrativas tradicionais e apresentar uma nova perspectiva sobre esses temas.
A linguagem rica e a influência da tradução
Cárdenas atribui a riqueza de sua linguagem à experiência como tradutor, que considera a “cozinha” de sua escrita. Ele enfatiza que a tradução lhe permite mergulhar nos sons e ritmos de diferentes idiomas, incorporando-os em sua própria obra.
A mudança climática e a observação da realidade
O autor, ao ser questionado sobre a presença do tema da mudança climática em “O diabo das províncias”, afirma que não se preocupa com temas pré-definidos. Para ele, a literatura surge da observação direta dos fenômenos da realidade, como a relação entre a natureza e as forças sociais.
A paixão pela escrita desde a infância
Cárdenas compartilha sua paixão pela escrita desde criança, revelando que preferia escrever a ler. Ele recorda com carinho sua antiga máquina de escrever, ferramenta essencial para a sua relação com a escrita. Para ele, a experiência física da escrita, o contato com o papel e a tinta, é fundamental para a criação literária.
A tradução: uma conversa cotidiana
Cárdenas descreve a tradução como uma extensão da conversa cotidiana, um processo de trazer para o espanhol os sons e ritmos de outros idiomas. Ele enfatiza que aprendeu línguas nas ruas, a partir de experiências e conexões pessoais, e não em ambientes acadêmicos.
Machado de Assis: um herói e um visionário
O autor expressa sua profunda admiração por Machado de Assis, considerando-o um dos seus heróis. Para Cárdenas, Machado de Assis foi um precursor de Jorge Luis Borges, modernizando a literatura brasileira e antecipando o movimento modernista do século XX.
Ele destaca a capacidade de Machado de Assis de reinventar a literatura, assim como Borges fez com Cervantes. O autor brasileiro, para Cárdenas, já havia realizado essa revolução no século XIX, demonstrando sua genialidade e influência duradoura.
Em suma, “O diabo das províncias” é uma obra que revela a riqueza da escrita de Juan Cárdenas, marcada por sua profunda admiração pela literatura brasileira e sua busca por novas formas de representar o trauma e a realidade da América Latina. A obra do autor colombiano é um convite à reflexão sobre o passado e o presente, e sua leitura é essencial para quem busca compreender as complexidades da nossa época.
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