Juan Cárdenas: “Aprendo línguas nas ruas” e traduz Machado de Assis para o espanhol
Romântico colombiano celebra publicação de “O Diabo das Províncias” no Brasil e fala sobre paixão pela escrita e a relação com a tradução
Um sonho realizado: “O Diabo das Províncias” em terras brasileiras
O romancista colombiano Juan Cárdenas, autor de cinco livros, incluindo “O Diabo das Províncias”, lançado no Brasil em 2024 pela editora DBA Literatura, expressa sua alegria em ver sua obra traduzida para o português. Para ele, ter seu livro publicado no país de Machado de Assis, autor que ele admira profundamente e já traduziu para o espanhol, é a realização de um sonho.
Inspiração e traumas: Retorno à Colômbia e a busca por sentido
Cárdenas revela que a inspiração para “O Diabo das Províncias” surgiu de sua própria experiência ao retornar à Colômbia após 15 anos no exterior. O livro, que retrata a vida de um biólogo que volta à sua cidade natal e se depara com traumas do passado, reflete a busca do autor por compreender o significado de retornar à América Latina após um longo período fora. Ele mergulha nas complexidades sociais e políticas da Colômbia, explorando o legado histórico de escravidão, genocídios indígenas e a luta pela terra.
Linguagem rica e detalhes: Uma “cozinha” inspirada na tradução
A escrita de Cárdenas, rica em detalhes e nuances, é fruto de sua paixão pela tradução. Ele considera a tradução como a “cozinha” de sua própria escrita, admitindo que não tem total consciência do processo criativo, temendo “estragar o mistério” de sua obra.
A urgência do clima: A natureza e as forças sociais
Ao ser questionado sobre a presença do tema da emergência climática em “O Diabo das Províncias”, Cárdenas enfatiza que não pensa em temas de forma pré-determinada. Para ele, a literatura se alimenta da observação direta da realidade, da interação entre a natureza e as forças sociais. A mudança climática, uma realidade inegável, está presente em sua obra, não como um tema imposto, mas como uma experiência sentida no corpo.
Uma história com a escrita: A máquina de escrever e a paixão pela criação
Cárdenas compartilha sua paixão pela escrita desde a infância, quando preferia escrever a ler. Sua “máquina de escrever velha”, ferramenta que o acompanhou desde pequeno, representa o fascínio pela criação material, pela experiência física da escrita. Ele compara a escrita à pintura, reconhecendo a importância de ferramentas e tecnologias, citando o escritor argentino Sergio Chejfec como referência.
As ruas como idioma: A tradução como diálogo cotidiano
Juan Cárdenas, apesar de não ter formação formal em tradução, desenvolveu uma relação única com as línguas. Ele afirma que aprendeu línguas nas ruas, através de experiências e conexões pessoais. Para ele, a tradução se assemelha a uma conversa cotidiana, uma forma de trazer para o espanhol os sons e ritmos de outras línguas.
Um herói literário: A admiração por Machado de Assis
Cárdenas considera Machado de Assis um dos seus maiores heróis literários, admirando sua capacidade de modernizar a literatura brasileira, transformando a herança cervantina para o contexto do século XIX. Ele compara Machado a Jorge Luis Borges, outro grande escritor que, no século XX, modernizou a obra de Cervantes.
A história de Juan Cárdenas, um romancista colombiano apaixonado pela escrita, é um exemplo de como a literatura pode ser um veículo para a expressão de sentimentos, reflexões sobre a realidade e a busca por novos caminhos para a linguagem. A publicação de “O Diabo das Províncias” no Brasil marca um momento importante para sua carreira, abrindo portas para um público ainda maior e contribuindo para o diálogo entre as culturas brasileira e colombiana.
Veja Nossas Postagens: https://ebettr.com.br/postagens/
